Análise | Shadow of the Tomb Raider

Lara Croft em sua melhor forma

Isabella Alves
8 min readOct 23, 2018

Nos anos 90 vivíamos uma época em que games possuíam diversos protagonistas masculinos, mas em 1996 fomos agraciados com a apresentação da arqueóloga Lara Croft em Tomb Raider no saudoso PlayStation One. Desde então a série de ação e aventura passou por bons e maus momentos. Eis que em 2013 a Crystal Dynamics anunciou um reboot da franquia optando por contar as origens de Lara antes dela se tornar a mulher badass que todos conhecemos. Após dois games, Shadow of the Tomb Raider vem com a missão de encerrar a trilogia de origem e ascender Lara ao título de Tomb Raider.

Passando-se aproximadamente um ano após os eventos de Rise of the Tomb Raider, aqui vemos uma Lara mais madura e decidida, que aparentemente aprendeu a lidar com seus traumas em Yamatai, mas que agora busca vingança contra os responsáveis pela morte de seu pai. E é justamente esse desejo que a faz perseguir a organização Trindade até a ilha de Cozumel no México. Lá ela encontra um artefato que a organização buscava e acreditando estar fazendo o certo, remove a adaga de seu lugar de descanso. As consequências são o início do apocalipse maia.

Logo nas primeiras horas de jogo, Lara já deve lidar com o peso de sua impulsividade e acaba mostrando seu lado mais sombrio após sobreviver à primeira catástrofe. E é nesse momento que entra em cena uma personagem de suma importância para ajudar Lara a sair das sombras: Jonah. Fiel escudeiro da arqueóloga nos dois jogos anteriores, ele possui um papel fundamental neste terceiro capítulo. Jonah é o responsável por ajudar Lara a enxergar a gravidade de seus atos e age como a voz da razão mantendo nossa protagonista nos eixos. Os momentos em que a dupla interage são cheios de diálogos descontraídos tentando quebrar um pouco o clima de tensão gerado pela trama. Prepare-se para ouvir Lara comentando sobre sua vida antes de Yamatai e conhecer um pouquinho mais do passado de Jonah também.

Mais do mesmo com novidades

Diferentemente dos capítulos anteriores que foram desenvolvidos pela Crystal Dynamics, a nova aventura de Lara ficou por conta da Eidos Montreal e apesar de terem mantido a mesma receita de bolo, é perceptível uma certa mudança de foco além de melhorias muito bem vindas.

Lara possui os mesmos movimentos padrões dos jogos anteriores, mas com algumas habilidades iniciais vindas diretamente de Rise, como o impulso com o machado de escalada e a corda, o que transmite a ideia de progressão entre os games. As novidades ficam por conta da habilidade de rapel e corrida pelas paredes, algo já visto na trilogia Legends — Anniversary — Underworld e as novas mecânicas de exploração aquática que são bem fluídas e ainda contam com seus próprios inimigos como moreias e cardumes de piranhas famintas.

A exploração aquática é uma das novidades do terceiro game.

Apesar do foco do novo título ser em exploração, os momentos de combate continuam presentes e também receberam melhorias focadas em stealth. Lara está mais mortal e agora pode cobrir seu corpo com lama para esconder sua temperatura corporal, usar paredes cheias de vegetação além da grama alta para se esconder, realizar execuções no topo das árvores com a nova habilidade Garra da Águia ou usar flechas de alucinação para fazer seus inimigos atacarem seus companheiros. Por sinal, a IA dos inimigos aparenta ter melhorado já que agora eles reagem ao encontrarem um companheiro abatido ou enforcado nos galho das árvores e imediatamente saem a procura da arqueóloga.

Ainda é possível sair atirando pra todo lado, mas os novos elementos claramente encorajam o jogador a abordar uma aproximação mais silenciosa e mesmo aqueles que não curtem tanto stealth irão acabar gostando. Quanto ao arsenal disponível, dessa vez ele está bem menor. Ainda contamos com arco, pistola, escopeta e rifle, mas em menores quantidades e com upgrades mais simples de realizar. Tanto que chegar ao final do título com todas suas armas melhoradas no máximo acabará sendo normal.

A nova árvore de habilidades e suas classes.

Houve também melhorias na árvore de habilidades de Lara. Agora ela é divida em três classes: guerreia, coletora e buscadora. Optar por encarar o New Game+ faz com que a árvore receba nada mais, nada menos do que nove habilidades novas. Além disso Lara também conta com diferentes tipos de plantas para auxiliá-la, sendo elas de resistência, concentração e percepção. Fazer um bom uso desse recurso será fundamental para sobreviver às dificuldades mais altas.

E por falar em dificuldade, Shadow of the Tomb Raider apresenta um sistema de personalização de dificuldade único. Dividido entre Combate, Exploração e Quebra-Cabeças é possível criar seu próprio nível de desafio. Quer combates simples, mas puzzles sem nenhuma dica e nada de instintos de sobrevivência quando está explorando? Ou prefere um combate mais complexo e não ter que pensar tanto ao resolver tumbas? Não há problema, basta configurar tudo isso ao iniciar o jogo, agradando assim novatos e veteranos da franquia.

Exploração sem igual

Como já mencionado, a exploração recebeu uma atenção especial nesse game. Acredite, você passará a maior parte do tempo resolvendo puzzles, fazendo escaladas, coletando artefatos e se deslumbrando com as diversas locações do que enfrentando hordas de inimigos. É aqui onde o game verdadeiramente brilha e mostra que a Eidos Montreal bebeu um pouco da fonte original.

Paititi é o maior hub do game e repleto de missões.

Seguindo o que foi apresentado em Rise, Shadow of the Tomb Raider conta com três hubs sendo o maior de todos a cidade de Paititi. São nessas áreas que os jogadores poderão interagir com NPCs e vendedores. Alguns podem desbloquear diferentes sidequests que são, em sua maioria, bem melhores do que as de seu antecessor, enquanto outros revelam a localização de tumbas e criptas.

E por falar em tumbas, aqui temos as melhores da trilogia. É notável todo esforço e carinho que os desenvolvedores tiveram com elas, apresentando excelente level design e puzzles bem elaborados. Cada uma delas é única e deixará os jogadores deslumbrados com sua beleza. Já as criptas possuem puzzles bem mais simples, mas que prendem o jogador da mesma maneira.

Tumbas e criptas são as melhores da trilogia.

A exploração em Shadow é tão natural que chega a ser orgânica. Apesar de se passar em um mundo semiaberto, é quase impossível ignorar um caminho oculto, uma passagem numa ruína ou uma caverna submersa. A recompensa muitas vezes vem em forma de artefatos e documentos que enriquecem a história e ajudam a apresentar o passado daquela região e de seus povos. Claro, isso se esse caminho não te levar diretamente pra uma tumba.

Welcome to the jungle

Passamos a primeira hora do game na ilha de Cozumel, mas é na Amazônia peruana que a trama se desenrola e aqui temos uma incrível experiência visual e sonora. O time de desenvolvimento soube criar uma floresta deslumbrante, usando e abusando da ausência de soundtrack para que pudéssemos contemplar toda essa beleza apenas ouvindo os sons da natureza. São pássaros, jaguares, capivaras, cachoeiras, farfalhar de vegetação entre muitos outros sons que tornam o game ainda mais imersivo. É altamente recomendável jogar usando fones de ouvidos, pois toda a parte sonora é um show a parte e consegue passar muito bem a tensão e ao mesmo tempo o fascínio de estar num local como aquele.

A trilha sonora está presente sim, mas em momentos específicos do game. Durante sequências cinematográficas, ao desbravar tumbas e resolver enigmas e até durante um nostálgico flashback, prepare-se para ouvir a melhor soundtrack de toda a trilogia. Brian D’Oliveira faz um trabalho primoroso usando um estilo mais tribal que casa perfeitamente com a temática do game.

Experiência visual e sonora espetaculares.

Graficamente o jogo se destaca por mostrar belíssimos cenários desde Cozumel até a floresta Amazônica. Lara está repleta de detalhes e continua linda, mas é notável que alguns NPCs receberam um cuidado bem inferior. Nas cenas em que há interação entre eles isso se torna ainda mais visível e, em alguns momentos, chega a ser estranho. É importante ressaltar que o game foi jogado num PS4 base para essa review.

Nem tudo é perfeito

Infelizmente, Shadow of the Tomb Raider não é feito só de elogios. Apesar da premissa da história ser interessante, a mesma acaba sendo mediana, mas ainda assim consegue prender o jogador. Um dos grande problemas é o final do game que passa a sensação de ser muito corrido, além da batalha final ser relativamente fácil até mesmo em dificuldades elevadas.

Por utilizar a mesma jogabilidade dos seus antecessores é natural Shadow sofrer dos mesmos problemas. Durante os raros momentos de combate, se esquivar continua sendo estranho. O sistema de cover automático também continua presente e as vezes pode acabar atrapalhando. Já em locais mais escuros Lara irá ligar uma lanterna, mas pode acontecer da mesma não iluminar o suficiente.

Ainda que nas primeiras horas Shadow of the Tomb Raider apresente um excelente ritmo, o mesmo acaba sendo reduzido sempre ao chegar nos hubs e tudo isso por conta das diferentes atividades que podemos realizar nesses locais. Chega a ser contraditório, mas mesmo apresentando sidequests interessantes e que acrescentam para a história como um todo, as mesmas podem causar uma quebra de ritmo, visto que estamos em uma corrida contra o tempo.

O Veredicto

Com uma história mediana, sequências cinematográficas de encher os olhos, momentos de combate na medida, mundo rico e deslumbrante, jogabilidade excelente e uma exploração orgânica e natural que instiga o jogador a se aventurar pela Amazônia peruana esse é, com certeza, o melhor game da trilogia e altamente recomendado aos fãs das antigas e de exploração. Ao unir a fórmula de sucesso apresentada no game de 2013 com características marcantes dos primeiros Tomb Raider, Shadow of the Tomb Raider mostra a transição do novo para o clássico, de uma Lara insegura para uma Lara mais durona e aventureira. Uma Lara que sente prazer ao descobrir uma tumba, que se encanta ao se deparar com um artefato, que fica maravilhada ao descobrir o místico. Enfim, uma Lara que finalmente está saindo da sombra do legado de sua família para começar a construir seu próprio. Uma protetora dos mistérios do mundo. Uma verdadeira Tomb Raider.

Sobre o game

Título: Shadow of the Tomb Raider
Lançamento: 14 de setembro de 2018
Plataformas: PlayStation 4, Xbox One e PC
Desenvolvedora: Eidos Montreal
Distribuidora: Square Enix

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Isabella Alves

28 | Analista de suporte que tem como hobby escrever sobre uma das coisas que mais ama: games.